domingo, 29 de maio de 2011

Classificados


Coloquei minha sorte nos classificados, perdida em alguma página embaralhada e confusa do jornal da manhã. São letras expostas à vista de todos, mas pouco notadas em meio às manchetes do dia. Num canto da folha, lá está o aviso simples e direto: Doa-se um coração usado, mas ainda em bom estado de conservação, a quem realmente puder cuidar.
Sim, entregue apenas a quem saiba chamá-lo de seu e o guarde bem, a quem lhe dê valor acima das pequenas falhas e do desgaste deixado por quem não foi tão atencioso. Talvez um desavisado tropece nessas palavras ou antes tropecem em mim. Quem lê recados assim deixados pela vida, no mínimo procura por algo, e no máximo encontra alguém.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Esse tal


Querido tal,
Só vim me despedir. Estou começando pelo que deveria ser o fim - nada mais adequado a uma história que nunca chegou nem ao "Era uma vez...". Já devia ter dito isso, mas quando não me faltava coragem, me faltavam as palavras. Agora percebo que só precisava de uma: Adeus.
Por muito tempo - ou seriam muitos textos? - você foi esse tal que ocupou meus pensamentos e se fez presente mesmo na ausência, um sem querer que eu quis demais, tanto que depois do último ponto final você ainda não será capaz de imaginar. Tanto que eu podia querer sozinha, ou por nós dois. E é por isso que te escrevo agora, não pra dizer que vou continuar esperando pelo dia em que você dividiria esse querer comigo, mas pra mostrar que, por maior que ele fosse, nunca seria de fato amor. Pra isso, um só não é o bastante, e o meu frágil coração, esforçado como sempre, não daria conta do recado. Especular sobre o que poderia ter acontecido num passado distante é algo sem sentido e prefiro não fazê-lo. Não foi, passou.
Desculpe-me pelos transtornos, talvez tenha te confundido ao carregar seu nome de raiva e não muito depois deixá-lo escapar apenas pelo prazer da lembrança. A inconstância dos meus sentimentos sempre foi inversamente proporcional ao quanto eu pensava em você. Por isso, não estranhe se sumir de repente; vim te informar que vou arrumar a casa, mas você está de mudança.

Até - breve, tarde ou nunca mais.

domingo, 15 de maio de 2011


Estou torcendo minhas ideias pra ver se escorrem algumas palavras, ou, na melhor das hipóteses, pra tirar esse excesso de você. Nesses muitos minutos, apaguei mais do que escrevi, e é quase um milagre que essas linhas tenham sobrevivido. Estou perdendo o jeito. Confesso que, no início, pensei que teria um algo a mais pra registrar em cada texto sempre que batesse a já conhecida vontade de ir rabiscando as folhas. Pensei que os dias me reservariam motivos melhores que os que agora uso pra justificar essas frases, praticamente me desculpando por não ter mais o que dizer. Quis desviar o fio da meada, voltar as atenções pra outras presenças ou apenas não prestar atenção em nada, pra ver se daí nasciam novos contextos. Agora percebo que é só me distrair um pouco e meus pensamentos vão sondar despretensiosamente o lugar do meu coração onde você se escondeu. A questão é que por mais que minhas palavras tenham se tornado comedidas, elas nunca deixam de te procurar.

sábado, 7 de maio de 2011

De novo, de novo e de novo


Nessas idas e vindas de humor, nesse 'enche e esvazia' de expectativas, só consigo me perguntar por que nunca faço diferente. Não é possível mudar o passado, mas é possível olhar pra trás e ver onde se esconde o erro, os disfarçados poréns da vida que nos fazem quebrar a cara. Só eu sei o quanto é amargo o gosto de uma nova decepção, ainda que já tenha provado muitas. E mesmo conhecendo minhas falhas, me arrisco com facilidade, beiro o precipício o tempo todo e não hesito em me atirar, sem ao menos me dar o trabalho de fechar os olhos.
As esperanças são algo próximo da sensação de chegar aos últimos degraus na subida de uma escada enorme, ou avistar um brilho fraco no fim de um túnel extenso. Por mais cansado que você esteja, vai encontrar forças onde elas parecem não existir e apressar o passo, nem que seja só pra aguentar até o final. O que nos move é a certeza com que acreditamos no próximo passo, mas o que nos impulsiona é não saber como ele será.

domingo, 1 de maio de 2011


E quantas vezes eu pensei em fugir de casa pra nunca mais voltar, dar as costas pro mundo, pra tudo. E quando não dei o braço a torcer, mesmo que essa fosse a resposta mais simples pros problemas mais complicados. Já fiz tempestades imensas em copos d'água, mas outras ainda maiores caíram dos meus olhos por motivos pequenos. Agora estou aqui, ainda em casa, mais cedo ou mais tarde dobrada por alguns argumentos bem aplicados, cansada de drama, teorias demais e atitudes de menos. Perdi a conta de quantas vezes recorri às linhas do papel pra escrever isso, mas essa frequência de nada serviu pra me fazer aprender a mensagem. Talvez eu seja só isso aí, nada além de quereres, palavras não ditas, consolos vazios, um caso arquivado sem solução.