quarta-feira, 27 de julho de 2011

0.


Então vamos fazer diferente só pra manter o padrão. Vamos começar agora, e começar do zero, sem lembrar que há infinitos negativos antes desse ponto. Confesso que o recomeço já se tornou uma característica inerente a mim, às vezes por disposição própria, outras por imposição da vida. Reconstruo meu castelo de areia sem ter do que reclamar, já que a linha ininterrupta e irrefreável que é o tempo me permite partir a qualquer momento desprendida do passado, ao qual sempre - e somente - cabe ficar pra trás. E mesmo zelando, cuidando e me esforçando como nunca deixei de fazer, meu punhado de areia desmoronado é apenas adiável, pois certeza e solidez só existe mesmo na quebra das ondas. Nem por isso me falta coragem - ao contrário, talvez ela sobre pra fazer o melhor que eu puder se enquanto eu puder for bem pouco. Assim, deixo aqui registrado meu marco zero (ou mais um no meio daqueles que perdi a conta) pra separar o 'antes' mal feito do 'depois' em obras. Eis o início de mais uma tentativa, até que uma delas seja o motivo de um resultado. Já é um começo.

segunda-feira, 18 de julho de 2011


Nem sempre foi assim. Admito que gostava mais quando as palavras escapuliam, ainda que eu reclamasse e torcesse o nariz por causa das consequências... melhor que agora, afinal empurrões e longos minutos olhando a tela em branco, esperando um não sei o quê de inspiração, não servem pra completar umas poucas linhas. Receio que algo tenha morrido em mim - e, mesmo não sabendo que algo é esse, já sinto imensamente sua falta. Há um tempo atrás, me disseram que todo mundo tem lá seus dias de bloqueio. Talvez fosse pela vontade cada vez maior de correr ao papel e contar em segredo o que a coragem não deixaria dizer com a voz, mas por vezes achei que bloqueio só existia pra quem esgotava o vocabulário ou perdia a paixão. Pensei que pudesse ir catando os contos, que estava me saindo bem, conseguindo disfarçar com o contexto o que eu realmente queria dizer. Esse silêncio que se assenta enquanto procuro ouvir minhas ideias só mostra que me enganei. Se eu estava certa - se é que alguma vez estive certa -, fui vítima (mais culpada que qualquer um) da primeira teoria. Quem sabe o problema esteja mesmo no vocabulário, nas palavras que não consigo encontrar, porque de paixão ainda restam algumas xícaras de chá entornadas no peito. Se eu estava errada, eis aqui os tais dias de bloqueio dos quais me alertaram, pois eles chegam pra todo mundo. Assim como insisto em remar contra a maré (baixa) e não desisto de completar mais um texto de fundo de gaveta, deixo meus votos para que as ideias - quiçá você também - não desistam de mim. 

quarta-feira, 13 de julho de 2011

9 3/4


O adeus veio dividido, como que adiando essa incômoda e inevitável despedida. Um fim cortado ao meio, uma saudade nunca tão única, que agora parece insolúvel na iminência da última vez. Em pouco mais de 24 horas, tudo faz questão de lembrar o quão sortudos nós somos por ter chegado até aqui - textos, fotos, frases, planos pro depois vazio que avança irredutível e sobre o qual temos pouca ou nenhuma certeza. Alguns soltam muxoxos exasperados e desdenham, mas agora não é hora de falar deles, e sim dos que apenas suspiram baixo com a explicação na ponta da língua - 'trouxas'...
Queria escrever aqui alguma coisa bonita e providencial pra preencher esse tempo que chega a ser injusto, tão curto ele é. Nem precisaria vasculhar os 7 volumes descansados ali na prateleira pra encontrar algo que pudesse repetir, mesmo quando lido por diversas vezes; agora, nos agarramos tanto à tentativa de evitar o final que temos vontade de reafirmar cada palavra, cada nome, cada personagem, pra assegurar que a magia existe e sobrevive[rá] em nós. Obrigado. E aqui tentamos colocar a gratidão àquela que escondeu a identidade nas iniciais, o agradecimento por milhões de vidas transformadas e muitas outras lições aprendidas. Não só a ela, que dedicou suas últimas linhas a sete pessoas, mas a muito mais que sete corações que acompanharam Harry até o fim.

"It all ends here."

domingo, 10 de julho de 2011

Verbete


E você, menina boba? Ficou aí colocando bobos da corte em tronos de rei, distorcendo os fatos pra encaixar as vontades, amontoando pouquinhos de afeto pra chegar a um - um bom motivo sequer que conviesse à razão. Sabia o que era certo, mas estava satisfeita enquanto o errado não desse trabalho. Insistia em alargar as ideias que por fim se tornavam elásticos frouxos, deixando as palavras soltas por falta de amarras, de utilidade. Conhecia o começo, meio e, sobretudo, o fim, mas quanto mais relia história, mais se afastava da moral. Cheia de certeza, incapaz de seguir os próprios conselhos. Tantos foram os presenteados com um pouco grande demais do seu coração... sim, presenteados, pois presente é entregue de bom grado, arranca-se a etiqueta do preço e só quem oferece sabe o quanto custou. Então, é inevitável não se perguntar: e você, menina boba? Qual a parte que lhe cabe?
Você não sabe o que quer, apenas pensa que sabe. Vai ouvir que "felicidade é um estado durável de plenitude, satisfação e equilíbrio físico e psíquico, em que o sofrimento e a inquietude estão ausentes." Não confie na durabilidade da felicidade, menina boba, essa felicidade permanente que você espera encontrar em alguém. "fe.li.ci.da.de. s.f. 1.Qualidade ou estado de feliz." É assim que o dicionário define isso que você vive procurando vindo dos outros e nem sabe o que significa. Estado de feliz não delimita tempo, então aproveite enquanto puder. Essa felicidade de 5 sílabas encerra sua sina, e acredite, você a merece - pela falta de sorte no jogo e nos provérbios, por tropeçar parada, não ser de pano, vidro e muito menos porcelana, amar a chuva e o frio, falar alto, rir esquisito, por não saber dançar balé ou simplesmente dançar, por ter um ciúme corrosivo de seus livros, ouvir rock no último volume, não se importar em combinar as meias e por cada minúscula peculiaridade que só deve saber quem te amar demais, pois o bastante não é suficiente pra tudo isso. Te desejo sorte, menina boba, mas, acima de tudo, desejo voltar daqui a um tempo e consultar o seu sorriso antes do dicionário pra saber o que é ser feliz.