quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Crônicas do Rei de Umbigo

I


Ela continuava do mesmo jeito de sempre. Ainda tinha a mesma família, os mesmos amigos, a mesma cara, a mesma personalidade – talvez um pouco mais forte, amadurecida pelo tempo, mas ainda a mesma. Nenhuma mudança muito drástica, contando que sempre fora meio sentimental e chorasse às vezes. Ainda ia a festas. Ainda beijava. Ainda sofria. Ainda dava seus pulos pra seguir em frente. Ainda era romântica, e muito. A única coisa realmente diferente era que, de uma hora pra outra, ela se tornara o centro do mundo.
Ok, talvez não de uma hora pra outra. Talvez por resultado de alguns pontos importantes acumulados ao longo de uma adolescência prazerosa, embora rápida e cheia de altos e baixos. O mimo ganhado sem esforço e os amores, vários amores, podem ter ajudado a formar esse ideal de mulher que tudo pode e com quem quiser, o que a coloca no topo não apenas do seu mundo como também, ela diz, do mundo de qualquer homem. E não era preciso ser dos mais observadores pra reparar que, de repente, todas as cantadas e olhares alheios começaram a recair sobre ela, todas as previsões de horóscopo, alinhamentos planetários, coincidências e frases clichês se adequaram como se feitos exclusivamente pra contar a sua história. Mas talvez uma ou outra das várias boas amigas que tinha notasse que as teorias já não se encaixavam aos fatos, mas sim os fatos iam sendo distorcidos pra caber dentro das teorias. E então as cantadas, olhares, horóscopos, alinhamentos planetários, coincidências e frases clichês se reduziam ao que lhe convinha, ou pelo menos ao que ela desejava.
Mas essas mesmas amigas jamais se atreveriam a dizer isso a ela. Não por medo de serem tachadas como invejosas que não eram ou pra não perder uma amizade construída ao longo de anos. Não diziam nada porque ela estava bem, ou pelo menos parecia estar bastante satisfeita consigo mesma. Elas sabiam, entre  olhares de compreensão muda, que aquele poço de sorte no qual caíra subitamente era, na verdade, a tentativa desesperada de um último fôlego pra quem há muito se afogara em azar. Cansada de esperar que a vida se desse um jeito, ela decidiu que seria feliz, com ou sem o aval do destino.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

antes tarde que nunca #1


Deitada naquele abraço, descobri que a felicidade era um som - profundo, aveludado, seguro, vital.
Ecoando de dentro do peito dele.
Ecoando nos meus sentidos.
Ecoando no universo e em tudo ao redor.

De repente, a maior necessidade do mundo era continuar ouvindo.


Pelo que dizem por aí e na falta de inspiração pra oferecer algo bom e novo, vou publicar uma meia dúzia (ou nem isso) de bobagens que escrevi quando alguém ainda lia esse blog antes que seja tarde demais. Há uma grande quantidade de pessoas acreditando ou desconfiando que no dia 21/12/2012, hoje conhecido como "nessa sexta-feira", o mundo terá seu ponto final. Não que os maias precisassem dizer - eu, particularmente, acho que já demos motivos suficientes para que nosso planeta se esvaísse por outros meios, não menos catastróficos, mas hoje encarados com normalidade num cotidiano caótico por si só. Depois de inúmeros debates comigo mesma, aceitei silenciosamente a existência de algo maior que eu; convenhamos, não é muito difícil - somos pequenos demais. Alguns chamam de Deus, e tenho certeza que minha mãe absolutamente religiosa gostaria que eu também assim chamasse. Minha concepção, se é que tenho uma, difere das palavras que ouvia todos os domingos na igreja desde que era muito pequena pra sossegar no banco e prestar atenção durante a missa. Não tenho uma definição, mas guardo um sentimento. Sem entrar no mérito da questão, acredito que essa força em que se insere não apenas nosso mundo, mas tudo que existe e ainda há de existir, não segue o calendário (assim como nem todos os povos contam seus dias da mesma forma) e não tem um relógio de pulso.
Mas e se nós soubéssemos o dia exato do fim do mundo?
Passei as últimas noites me fazendo essa pergunta e cheguei à conclusão de que talvez não deixássemos tantas coisas inacabadas por aqui. A verdade é que todos temos planos pra daqui a muito tempo, como prestações a perder de vista que preferíamos esquecer. Então, para evitar pendências, muitos tentariam fazer em uma semana o que não conseguiram concretizar numa vida inteira. Juro que preferia não ser agraciada com a privilegiada informação dos maias. Quem sabe assim tentasse colocar em prática todos os dias os planos de longo prazo, sem empurrar pro amanhã a responsabilidade de fazer diferente, de ser diferente e, com sorte, um pouco melhor.  Mas, ultimamente, na falta de ideias, estou abraçando qualquer causa que possa reavivar minha vontade de escrever. Gostei do tema. Hoje é quarta-feira - tenho dois dias e a oportunidade de publicar os rascunhos que não tive coragem ou disposição pra divulgar antes.
Se eu puder deixar algo (de bom, espero), que sejam minhas palavras.

Eis minha forma de prestar contas com a vida.
Antes tarde que nunca. 

sábado, 6 de outubro de 2012


É que me deu vontade de dizer que sinto sua falta. Não, a sensação não asfixia, não me faz chorar. Talvez esse meu orgulho de mulher-quase-independente não seja pura pretensão de quem quer começar a pagar suas contas o quanto antes, mas deve ter força suficiente pra empurrar meus passos ao trancos enquanto eu penso em me sentar num cantinho e aguardar sua chegada pacientemente. "Ando por aí querendo te encontrar", é verdade, e a vida não tem colaborado abertamente nesse sentido. Já me enchi de raiva, raiva de Deus e do mundo inteiro, raiva de acordar sem repassar mentalmente a roupa que vou vestir pra te encontrar, raiva de dormir sem o frio na barriga que sucede a lembrança "ele vem amanhã", raiva da segunda-feira porque domingo foi embora, raiva do sábado que não chega, raiva desse celular que não toca. Raiva amarela o sorriso e deixa na boca um gosto amargo que nem chocolate - nem uma caixa de Lacta - consegue tirar. Quando ter raiva não te trouxe de volta, meu peito simplesmente se esvaziou. Falta. Sua falta. Aprendi a ignorá-la e encontrei mais um disfarce que um remédio. Espero por você tapando o sol com uma, duas, quantas peneiras forem necessárias, pois esse negócio de melodrama não foi feito pra mim. Tive experiências suficientes pra entender que minhas palavras descrevendo um amor platônico e cheio de frufrus são como um ogro tentando vestir uma saia de balé. É possível morrer de saudade todos os dias e continuar vivendo; bem mais que possível, é preciso. Se não faço de sua ausência o centro da minha existência, não significa que te deixei se ausentar de mim. Não te amo menos, ao contrário, me desdobro tirando de trás da orelha uma forma de ir em frente e te levar no meu enlaço pra te amar sempre um pouco mais. Me deu vontade de dizer que sinto sua falta - agora, ontem, há menos de um segundo e em todo tempo daqui até você voltar. 

sábado, 18 de agosto de 2012

Solenoide

- Vamos tocar Greensleeves no Festival?
- Poxa, eu tava pensando em fazer uma música... bora concorrer pelas inéditas?


sexta-feira, 20 de julho de 2012


E nem foram as mensagens compartilhadas pelo Facebook que me fizeram lembrar da data. Olhei pra estante e vi um buraco entre os livros, coisa que não é admissível considerando o ciúme que tenho de minha pequena coleção; Morangos Mofados jazia sobre a TV, recém-chegado de muitas viagens por mãos, bolsas e prateleiras alheias durante o tempo que passou emprestado a amigos de confiança. 'Amigos de confiança' é um baita de um pleonasmo. Se não fossem confiáveis, (além de não receberem a guarda sobre meus livros) não seriam chamados de amigos.
Tenho um tipo de estima silenciosa. Não sou desses que se derramam em beijos e abraços a todo tempo, engasgo até pra dizer 'eu te amo' porque... sei lá, não sou a fofura em pessoa e nem me imagino sendo. O meu maior privilégio foi ter encontrado quem lesse inúmeras palavras não pronunciadas e sentisse abraços dados à distância de quilômetros, pois esses sim vieram pra não ir embora nunca mais. Todo dia é dia do amigo nesse mundo clichê. Então, a nossa festa começou cedo e ainda temos uma vida inteira pra comemorar.
Nada de frases de Clarice Lispector, Martha Medeiros que me desculpe. Hoje, só o feijão com arroz, simples e sem floreios tal como deve ser - muito, mas muito obrigada por tudo. Sempre.

(A vocês-sabem-quem)

sábado, 23 de junho de 2012


Me sinto desconfortável falando da morte. Muitos encaram o fim com um certo receio, talvez desconfiança acerca do que há no depois ou se há um depois do qual desconfiar; meu desconforto é diferente, não sonda o medo nem a vontade de viver além da conta. O que me estranha não é pensar sobre quem se foi, mas sim sobre quem ficou. E ficou sem. Imagino que quem vai deixa uma espécie de lacuna no presente e no futuro dos que o conheceram, um lugar desocupado onde devia haver presença - um lugar insubstituível.
Aprendemos a perder desde cedo e, ainda que por vezes não tivéssemos entendido o porquê de alguém simplesmente não estar mais ali, enfim aceitamos que 'ir pro céu' devia ser uma viagem longa. Não me lembro bem daqueles que me deixaram quando ainda era pequena, aliás, acho que começamos a gravar essas pessoas na memória quando entendemos que elas não voltariam de onde quer que tivessem ido. Só lembro das coisas que me contam, das fotos que vejo, e isso já basta pra sentir uma saudade tão grande que é como se eu ainda esperasse um regresso tardio e um abraço apertado. Saudade, pra mim, é sempre falta de ar, arquejar ruidoso no fundo do peito enquanto continuamos respirando normalmente.

sábado, 9 de junho de 2012

texto 1 x 1 ideia



Ok, não está dando certo.
Toda santa vez (e quando digo santa é santa mesmo) que me ocorre uma boa ideia pra fazer o Conta-gotas pingar novamente, tenho exatamente isso: UMA boa ideia. Ideias não escrevem textos, meus caros. Melhor, ideiaS escrevem sim - UMA ideia é que, sozinha, não consegue ir pra frente. Cá estou lançando esse pensamento depois de semanas - semanas, veja você! - em branco, então o leitor, cuja paciência já pedi tantas vezes que chega a ser atrevimento, deve imaginar o que estou tentando dizer.
Aos trancos e barrancos, empurro esse blog pra frente, ora com conversa fiada, ora com as pieguices dos meus 17 anos, ora com os apocalipses dos meus 17 anos e ora com promessas furadas de não parar de escrever. De qualquer forma, o blog segue cambaleante pelos domínios do Blogger e eu cambaleante pela minha falida carreira de pseudo-escritora. No dia 12 de fevereiro de 2012, postei as seguintes palavras, confira comigo no replay: 

[...] pretendo - veja bem, eu disse pretendo - publicar ao menos 1 (um) texto por semana, o que provavelmente ocorrerá aos sábados domingos, sabe-se Deus a que horas. Resumindo: diga ao povo que escrevo.

Desses dias remotos até então, publiquei exatamente 4 posts e mantive não mais que isso em rascunho, mas transcorreram 17 - dezessete, por extenso mesmo - semanas até eu notar que o plano tinha falhado. Não, o Conta-gotas pinga. E é por isso que venho anunciar o plano B (ou Z, se o leitor considerar todos os outros que deram errado).

Como agora só tenho uma ideia de cada vez, resolvi confrontar o pensamento inicial desse post - Sim, UMA ideia, sozinha, consegue ir pra frente. Se, ocasionalmente, ela se unir a outras pra esticar as linhas de um texto, melhor ainda. A questão é que não irei mais esperar pra unir a fome com a vontade de comer (?), afinal, no fundo é tudo a mesma coisa. Pensei, escrevi. Simples assim. Essa abordagem é tão nova pra mim quanto pra qualquer um que passou pelo Conta-gotas antes do dia de hoje e viu além de poeira e aranhas fazendo teia que costumo escrever textos longos, cartas, discursos, testamentos e monografias. É. A partir de agora, não fique intrigado, caro leitor, se encontrar duas linhas mal e porcamente expostas nessa página. Não tenho certeza nenhuma sobre como as coisas serão daqui pra frente, não sei se a experiência vai dar certo, se vai jogar o Conta-gotas de vez no buraco ou se nada vai mudar. O que eu não posso é continuar com uma vontade inacabada de escrever, pois nada me conforta tanto quanto despejar as palavras em algum lugar.
A você que leu até aqui, você que eu talvez nem conheça, que mora longe, que mora perto, que nunca me viu, que me vê todo dia, que me acha linda, que nem tanto, que é minha mãe (beijo, mãe!), que já não aguenta mais ouvir as minhas desculpas... muito obrigada.
Sinta-se abraçado daquele jeito bem forte como quando a gente quer dizer sem dizer que gosta muito de alguém.

Nota: Pra informar que meus textos serão mais sucintos, fiz um post do tamanho de Os Lusíadas. Ironia do destino.

sábado, 28 de abril de 2012


"A amizade nem mesmo a força do tempo irá destruir..."
É incrível como a gente consegue sustentar uma amizade em um mundo imperado pela superficialidade de causas efêmeras. A passagem dos anos não teve qualquer interferência sobre duas personalidades tão diferentes e também tão iguais, complementando-se com a harmonia que só a unidade sabe ter. E sempre foi assim - um por dois, dois por um e duas pra manter contato, manter por perto aquele ombro que faz falta nas horas difíceis e aquele sorriso que não pode faltar se a hora é de ser feliz.
Mas não foi fácil nutrir essa ligação que, por tamanha importância, já confunde-se com laços de irmandade. É preciso empenhar-se pra cultivar qualquer sentimento. Mobiliza esforços, tempo, cuidado e força pra enfrentar o que quer que ouse interferir, até mesmo a vida, que às vezes insiste em colocar obstáculos. De que outra forma se construiria algo sólido? Só quando temos com quem contar em todas as horas é possível deitar-se à noite e enfim descansar tranquilamente. Todas as horas, sim - as 24 de um dia, nos 7 dias de cada semana, há... quantos anos mesmo?
Os tais quantos anos ensinaram que presença verdadeira não se faz notar por alvoroço, pois amigo não é visita a qual, depois de acolhida pelo tempo de se acostumar com as mudanças dos parentes que há muito não vê, se despede com dois beijinhos no rosto, vai embora e dá mais uns longos anos pras rugas se acumularem novamente. Quem está conosco, de fato, nem sempre encontra a casa arrumada e não repara a bagunça mesmo se a gente não pedir. É de casa. Cumplicidade não é coisa que se faça por via de um segredo sussurrado alto demais; é entendimento inaudível, abraço dado com um olhar, apoio incondicional, puxão de orelha com propriedade. É esse nó de marinheiro que nos une e mantém uma sempre rondando as imediações da outra, pronta pra rasgar seda na menor oportunidade.
Pois as gueixas que se cuidem. Está pra nascer ameaça maior que esse texto.

Escrito por mim em parceria com Silvya Fonseca, a quem dedico de todo coração cada uma dessas palavras, mesmo sabendo que ela apreciaria mais o sorvete de limão da minha mãe. Obrigada por tudo, sempre. Te amo, amiga.

domingo, 25 de março de 2012

' , ', ', ' ' , ', ', '' , ' ' , , ' ,'


Ela se aninhava ao cobertor puído - em outros tempos, capa da invisibilidade que a resguardava dos diversos tipos de monstros cujo hábitat era o selvagem ambiente embaixo da cama - como se ali estivesse um pedaço da própria alma tecido em pano xadrez. Grossas gotas se misturavam ao chão lá fora, embora corressem melhor nos olhos dela tamanha a atenção com que as observavam. Cheiro de infância, molhado, quente. Lembrava do pai dizendo que aquilo era poeira subindo e pairando no ar, o que causava muito mal à respiração. A ela, ao contrário, não causava mal nenhum - aquele aroma, fosse feito de poeira ou de água, era sempre bem-vindo. Remédios remediavam conforme suas bulas, mas só os plocs resfolegantes e uma xícara de café eram capazes de lhe trazer redenção, ainda que a mente vagasse em surdina, desfocalizando o entorno do mundo e os pingos descendo do céu. A simplicidade (sim, embebida até mesmo em cada gota da xícara de café) é sabidamente a cura de todos os males e sutura feita por todos os bens. Por isso, olhando o extenso vazio esbranquiçado que talvez cobrisse o mundo todo por fora e por dentro, ela entendia que só podia contar com a chuva, conversando em silêncio com Deus sem saber se agradecia ou reclamava pelo homem ter inventado o vidro de sua janela.

domingo, 18 de março de 2012


Enfim, feliz.
E ponto final.
Passei tanto tempo com esse findar entalado na garganta que só de espera foram feitas minhas linhas, quando não espera, desencontros, quando não desencontros, fracassos, e quando nem isso, só a ausência crua e sem desculpas. "Enfim, feliz" - regra geral dos finais feitos, é também a exceção dos contextos em que estive até então. Se sobravam palavras quando alguém fazia falta, faltava a história que eu tanto queria construir, aquela que viria depois do depois de outro tropeço. E eis quem vos escreve, agora com conhecimento de causa, pra avisar que 'depois do depois' não há nada; "Enfim, feliz" é o "Era uma vez" do mau poeta, que, por só ter olhos - ou seria voz? - para a dor, sabe que a felicidade começa e reside no branco da folha, subentendida no que se deixa de contar.
E como eu queria contar. Queria não ter extorquido tanto meu vocabulário de pieguices, pra ser ridícula tendo razão ao menos em uma das várias vezes que o fui. "As cartas de amor, se há amor, têm de ser ridículas" *... e eu? Ridícula, antes, por não ter amor nenhum e escrever como se tivesse. Ridícula, agora, por ter o mais bonito e não saber escrever como tal. No fundo, disfarço a mediocridade disso que não consigo fazer convencendo a mim mesma sobre o apego do ser humano ao que lhe faz mal, a despeito do descaso com o que lhe faz bem. Mas eu me importo, sim e claro, com essa felicidade que pretendo conservar por tempo indeterminado, de tal forma que preciso (re)aprender o que antes era tão natural ao meu feitio... serei novamente apresentada à caneta e ao papel, para (re)adquirir o costume de não  permitir que a vida passe sem a isso oferecer salvas impressas, ensaiando aqui as novas palavras de sempre. Ridiculamente principiante, ridiculamente verde. Ao tempo certo, suficiente para a prática fazer efeito, ridiculamente capaz de amar e continuar a história de onde ela não deve parar.
Enfim, feliz.


* Todas as cartas de amor são ridículas, Poesias de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Amor


[E como não seria?
É ele, pois nunca me imaginei outra coisa que não eu só. É ele, porque nunca esperei nada que não fosse o meu próprio futuro, a minha independência, os meus sonhos e os planos que construí encimados em mais ninguém, enquanto as boas meninas suspiravam em coro pelo quanto antes possível dia de se verem radiantes em vestidos brancos, braços dados com uma galã exalando luz e perfume Kaiak, chamando uma casinha com cerca bem pintada de lar. É ele, pois eu revirava os olhos aos príncipes e generalizava a vida em sapos seguidos de sapos. De sapo em sapo, se fazia certeza que por mim e pra mim seria feito tudo que houvesse amanhã. É ele, porque ele não estava sequer entre as últimas coisas que eu podia querer um dia.
E quem sou eu agora pra imaginar outra coisa que não nós dois. Se espero por amanhã, é por razão e circunstância tão bem definidas quanto são nome e sobrenome. Quanto antes possível seja o dia em que estarei ao seu lado e, ainda que eu dispense os altares e sonhos regados a glacê, de braços dados pro daqui em diante. Pois é ele, pre-sen-te, com todas as sílabas e sentidos pra não deixar dúvidas, já que passado, aquele passado tão meu que me sufocava o futuro, já não existe mais. Amanhã será por nós. E como não seria? Príncipe, sapo, é ele. E é tudo que eu preciso chamar de meu.]

Humor


Todo o crédito a Oswald de Andrade. Quanto às entrelinhas... cada um sabe das suas.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Caro leitor,


Como você já deve ter notado, o Conta-gotas anda meio seco há algumas semanas. Queria, então, deixar registradas as minhas explicações, pois ainda que o blog pertença a mim, um texto não é um texto se não há quem o leia. A você que continua dando sentido ao meu escrever, aqui vão os pormenores da falta d'água.
O Conta-gotas andava tão capenga de atualizações que até o dia da publicação desse post que agora vos fala a idade da autora constava ali, no canto direito, como 16 anos. Pois bem, comecemos a criar vergonha na cara por aí. Depois do dia 6 de janeiro, passei a ter 17. Essa informação altamente relevante serve pra mostrar como o blog foi 'largado de barriga' nos últimos tempos. Mas não me entenda mal, não é obra do meu desleixo. Acontece que nos tais últimos tempos houve uma imensa falta de tempo e falta de organização para utilizar melhor o que eu tinha, principalmente em fevereiro. Ultimamente me dedico a escrever números e letras, números + letras, números - letras, números x letras e, quando tenho sorte no final, números = letras. O estudo tomou boa parte da minhas obrigações, mas o que me preocupa é a disponibilidade que sobra da minha atenção ao que faço por pura vontade e prazer, como escrever aqui. Não tenho a menor intenção de abandonar o blog é a mesma ladainha que repito desde o santo dia em que o criei e pretendo repetir até que a situação esteja irremediavelmente insustentável. Hoje, não é o caso. Assim, com o intuito de evitar que isso aconteça, para o meu bem e felicidade geral do meu coração, pretendo - veja bem, eu disse pretendo - publicar ao menos 1 (um) texto por semana, o que provavelmente ocorrerá aos sábados domingos, sabe-se Deus a que horas. Resumindo: diga ao povo que escrevo.
Por fim, um pedido que não deixa de ser atrevido. Não desista de mim, leitor. Não é a primeira vez que lhe peço isso, talvez eu venha pedindo desde o primeiro post no dia 28 de fevereiro de 2010, quando o Conta-gotas ainda era Lari's Hut e eu mal sabia o que estava dizendo, mas silenciosamente aguardava sua presença na próxima vez que quisesse confidenciar uma ideia. Aqui, não há encontros marcados, não há horários nem cumprimentos, nada que lembre de longe um compromisso. Só eu, você e meia dúzia de palavras nos tornando mais íntimos que quaisquer velhos amigos, sem, no entanto, termos sido apresentados. Portanto, a casa é tão minha quanto sua, entre e sinta-se à vontade. O Conta-gotas continuará derrubando seus pingos enquanto o leitor estiver aqui pra se molhar.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Metalinguística



            É complicado.
            Sei que essa não é a melhor forma de começar um texto, mas sempre encontro dificuldade pra fazê-lo e prosseguir como se as palavras fossem naturais, quase prontas pra serem escritas, quase predestinadas a estarem aqui. Não funciona bem assim. Às vezes, simplesmente não funciona mesmo. Então, vamos deixar de lado as introduções (especialmente essa mal feita que você acabou de ler) e ir logo aos enfins do meu caso.
            Coisa que também não é assim tão simples.
            Passar ao menos dois bons parágrafos juntando as ideias, jogando joguetes de palavras aqui e ali, te fazendo pensar a respeito, despertando a curiosidade onde talvez só houvesse desinteresse e nada mais útil a fazer... quem dera fosse fácil. Mas é. Não pra mim, sinto dizer. Pra outros, mais habilidosos e atentos que eu. Apenas engano bem – bem, não é?
            Perdoe-me se cheguei a falhar.
            Fica a vontade de criar metáforas com simplicidade, como alguém que exemplifica um termo complexo se apoiando em situações banais. Me falta essa capacidade pra expressar do jeito difícil e parecer inteligente, mas também a de expressar do jeito fácil e fazer com que seja bonito. Assim tem sido desde ontem, ou há algum tempo, ou desde sempre. Vim na esperança de que hoje fosse diferente, pois ontem, ou há algum tempo, ou desde sempre é tempo demais vivendo – melhor, escrevendo – num meio-termo que nem em sua própria qualidade se decide entre bom ou ruim. É um estado intermediário que não preenche nem transborda, se mantém imparcial. Já te ocorreu que hoje talvez eu queira a sensação da sede ou do sufoco?
            Não sei se vou bem, sabe-se lá se, inconscientemente, vou de mal a pior. Minhas palavras mornas, nunca quentes, nunca frias, agora só fazem me incomodar quando sua neutralidade deveria ser um alívio. Elas param no meio do caminho, eu paro no meio do caminho e me permito a falta de uma continuação, por vezes, sem querer. Por mais pontos finais que eu consiga inserir, a conclusão é sempre algo que permanece vago acima da resolução contida num simples sinal gráfico. Encerra-se a frase, mas o pensamento... esse nunca se fecha. Não finalizo, que dirá com chave de ouro. Talvez mereça mesmo uma de latão pra premiar meu talento vagabundo de 'parar por aqui'.
            E parar por aqui.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

201[duas]


Algumas coisas são mesmo inevitáveis. Há tempos que essas palavras estavam pra ser escritas, como um final que inexoravelmente nos aguarda ali na frente, mas ainda não sabemos quando o encontraremos nem por quanto tempo podemos adiá-lo. Se não fosse a iminência de um recomeço que, nesse momento, é tão simbólico pra nós duas – e quem ficou acordado até tarde esperando o ano novo chegar –, talvez nem estivéssemos aqui observando, especulando e ansiando para que a sucessão dos próximos 365 dias nos abençoe com momentos que teremos o prazer de relembrar. Por falar em relembrar, não foi ontem que 2011 batia em nossa porta com malas e tudo, carregando esse ar de recém-chegado que agora sentimos na presença de 2012? Isso de por pontos finais e, como uma fênix, renascer ante à vida é possivelmente a alavanca da construção de nossa história, na qual, dia a dia, deixamos coisas no passado, vivemos o presente e aguardamos esperançosos o futuro. Acumulamos promessas pra prestar contas a nós mesmos quando a vida exige uma grande “virada”, mas esquecemos que cada dia, cada segundo e cada pequeno instante é tempo de repensar o que somos e descobrir que podemos alçar vôos cada vez mais altos. Que os bons momentos do passado recente que é 2011 sejam guardados no interior da memória e que possamos criar novas alegrias à frente dos olhos, fazendo com que esse ontem se torne mera poeira sob os pés que avançam guiados pela experiência proporcionada pelo caminho. É fato que é muito mais fácil falar do futuro, visto que planos, diferentemente do que já se passou, não são imutáveis. Bom mesmo é “eu vou”, “eu farei” e “eu serei”, a despeito de “eu fui”, “eu fiz” e “eu era”... soa bem aos ouvidos ter a chance de fazer melhor. Que 2012 seja ou traga a oportunidade, e em nós permaneça a sabedoria para concretizar.

Feliz Ano Novo!

Texto escrito por mim e Silvya Fonseca (as "duas") no dia 31 de dezembro - er... e postado com o pequeno atraso de 6 dias devido a problemas técnicos hehe