domingo, 25 de março de 2012

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Ela se aninhava ao cobertor puído - em outros tempos, capa da invisibilidade que a resguardava dos diversos tipos de monstros cujo hábitat era o selvagem ambiente embaixo da cama - como se ali estivesse um pedaço da própria alma tecido em pano xadrez. Grossas gotas se misturavam ao chão lá fora, embora corressem melhor nos olhos dela tamanha a atenção com que as observavam. Cheiro de infância, molhado, quente. Lembrava do pai dizendo que aquilo era poeira subindo e pairando no ar, o que causava muito mal à respiração. A ela, ao contrário, não causava mal nenhum - aquele aroma, fosse feito de poeira ou de água, era sempre bem-vindo. Remédios remediavam conforme suas bulas, mas só os plocs resfolegantes e uma xícara de café eram capazes de lhe trazer redenção, ainda que a mente vagasse em surdina, desfocalizando o entorno do mundo e os pingos descendo do céu. A simplicidade (sim, embebida até mesmo em cada gota da xícara de café) é sabidamente a cura de todos os males e sutura feita por todos os bens. Por isso, olhando o extenso vazio esbranquiçado que talvez cobrisse o mundo todo por fora e por dentro, ela entendia que só podia contar com a chuva, conversando em silêncio com Deus sem saber se agradecia ou reclamava pelo homem ter inventado o vidro de sua janela.

Um comentário:

  1. Nada como cheiro de chuva mesmo... Ainda mais traduzido assim.

    P.S.: Redução do uso de pontos de exclamação: challenge accepted.

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