quinta-feira, 29 de julho de 2010

1460 dias com ele


Os quatro anos mais longos da história foram só um segundo depois de uma conversa turbulenta. Uma hora de perguntas e mais perguntas, sendo que quase todas continuaram do mesmo jeito, sem resposta. Mas duas coisas ficaram diferentes.
1ª: Eu. 2ª: Você.
Nunca passou pela minha cabeça que você falava sério. Nunca passou pela minha cabeça que tudo, e absolutamente tudo que parecia a maior infantilidade, a mais idiota brincadeira de criança, fizesse parte de um sentimento sincero. E assim foi. Mas especulações não passam disso, de algo que pode ser tudo menos concreto. Ficamos muitos dias achando que não ia dar certo (1460 ao todo), ao invés de acreditar no contrário. O tempo não deixou de passar, mas nos permitimos acreditar que seria sempre igual até um milagre acontecer.
E o milagre não veio.
Nada devia ter mudado, exceto por uma coisa. Você se cansou. Deu um rumo na própria vida, esqueceu essas bobagens que envolviam a mim e minha indecisão. E o que sobrou disso tudo? No fundo da garganta, sobraram palavras não ditas, e nas conversas, um monte de entrelinhas, nós só agora desfeitos. Ah, claro. Sobrou também o meu coração do mesmo jeito de sempre, e o seu já preenchido. Não por mim.
Você me disse pra lembrar de uma coisa. "Eu nunca quis te magoar. Me desculpa por tudo isso, e saiba, eu te amei. Muito." Lembrar não é remoer o tempo todo as mesmas palavras. É só seguir em frente e não deixar que elas se apaguem. Nunca.

quarta-feira, 28 de julho de 2010


Não precisa se desculpar agora, não me importo mais, vou pra casa.
Odeio muitas coisas em você, inclusive o jeito com que, apesar de estar errado, você diz estar certo. Seus livros, seus amigos... até sua música é uma grande porcaria. Seu sarcasmo me irrita. Ah, e só pra deixar claro: você não é tão brilhante. Você apenas pensa que tudo que fez é maravilhoso.
Então não se desculpe, eu vou pra casa.
Talvez eu fique sozinha por um tempo, quem sabe uma ou duas semanas. Mas, apesar de tudo, eu sei que só estarei bem ao seu lado. Sim, só ao seu lado, com seu jeito idiota de achar que sempre está certo e até com sua música ruim, que simplesmente não me deixa dormir.
Não precisa dizer que está arrependido, não peça desculpas, eu vou pra casa.

Post inspirado na música Married With Children, Oasis.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Incondicional


Carinho não é o problema. Você sempre vai encontrar onde nunca imaginou que pudesse haver. Os melhores abraços vem daqueles que pouco falam de sentimentos, mas que conquistam os nossos. Aqueles que às vezes não notamos a presença, pois nos acostumamos a ter sempre conosco, que, muito disretamente, ocupam um espaço insubstituível dentro e fora de nós.
Curioso. Nem sempre aqueles a quem damos importância demais são quem, de fato, se fazem merecedores. Enquanto isso, os que realmente significam muito pra nós estão aí, apenas aí. Não vale a pena dedicar nosso melhor sorriso a quem sequer se dá o trabalho de olhá-lo.
O que todos nós precisamos entender é que amor incondicional não se faz por sua força, mas sim pela frequência em que ela é demonstrada.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Se eu fosse você


Temos a mania de dizer 'se eu fosse você' de um modo leviano demais. É como dar o seu ponto de vista sem realmente viver uma situação.
Você não seria como eu. Não se coloque no meu lugar, porque isso envolve experiências que você não viveu, alegrias e tristezas que não estão gravadas no seu coração e, principalmente, palavras que você não disse. Eu não sou nenhum exemplo, mas sou o fantoche do meu mundo. Todas as vezes que você tenta ser quem eu sou, invade minha peça, sem ao menos conhecer o enredo.
Eu sei que você quer ajudar, que procura estar onde estou e encarar com mais segurança as minhas incertezas, olhar adiante um caminho que ainda não segui e guiar meus passos, mas essa é uma tarefa minha. Agradeço por ainda estar do meu lado. Mas deixe-me pular no escuro, deixe-me descobrir se há, de fato, um chão firme pra pisar. Vou seguir a minha estrada, e só te encontro lá na frente.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

R$ 0,05


7:38 da manhã. Quinta-feira chuvosa. Ônibus lotado. Sono.
Passei 15 minutos sentada no último banco do urbano. Vi um monte de gente entrando e saindo do ônibus, enquanto a chuvinha lá fora era constante, quase apática.
Havia um homem que sorriu e agradeceu ao trocador quando recebeu o troco de seus dois reais. Ele foi um dos poucos que levantou a cabeça pra olhar o senhor sentado numa poltrona velha, recebendo dinheiro e devolvendo moedas, dizendo bom dia pra cada um que passava e se mantinha em silêncio, encarando os próprios pés ou a chuva que batia na janela. O trocador era um sujeito simpático. Tinha um assunto para cada passageiro, puxava conversa quando alguém passava pela catraca, com um bom humor que parecia inabalável.
Levantei. Peguei o dinheiro e fui até o senhor. Ele me perguntou se eu não tinha nenhuma moeda, e naquele segundo quis realmente ter cinco centavos pra entregá-lo. Cinco centavos não pagariam a gentileza daquele homem, muito menos o sorriso bondoso que lhe estampava o rosto, mas seria meu modo prático de retribuir sua simpatia oferecendo um tostão que facilitasse seu trabalho. Imaginei quantos foram os que receberam seu cumprimento e sequer ergueram os olhos pra saber de onde vinha. Cinco centavos talvez fizessem um ou outro vasculhar os bolsos apressadamente no balanço barulhento do ônibus, talvez servissem para despertar a atenção dos mais distraídos e se tornassem um qualquer coisa que aquele senhor ganharia de cada um - já que não sorrisos, já que não 'bom dia'.
Foi então que me perguntei quão barata é a atenção que dedicamos aos outros. A resposta foi guardada na caixa à frente do trocador, enquanto eu dava espaço para que um novo passageiro atravessasse a catraca.

quarta-feira, 14 de julho de 2010


De todas as coisas de já dediquei e de outras que recebi, nenhuma foi tão necessária quanto aqueles minutos. Duas amigas olhando pro nada, cada qual com seus próprios pensamentos, imersas num profundo silêncio. Sim, o silêncio. Era o que podíamos compartilhar.
Quando cada um tem os seus problemas, o melhor que o outro pode fazer é estar presente. Não precisa dizer nada, não precisa fazer nada. Estar ali é o bastante, a amizade já prova que você se importa e sua presença é mais significativa que qualquer coisa.
Amiga, você não pode resolver todos os problemas do mundo, mas pode fazer com que os meus sejam mais simples do que parecem.

sexta-feira, 9 de julho de 2010



Hoje pensei em você. Tive vontade de te encontrar e dizer um monte de coisas, sem sentido, sem importância, mas dizer tudo. Quis muito te ouvir. Seus segredos, suas conquistas, seus maiores devaneios e até seu sonho maluco de anteontem. É assim que somos, não é? Desligados, alheios,completamente perdidos em nossas próprias bobagens. Estamos bem assim.
Várias vezes me perguntei onde íamos chegar com isso. Talvez não tenhamos mesmo um futuro promissor lá na frente do caminho que nossas vidas seguem. Sempre soubemos que não éramos grande coisa. Seria assim tão diferente se, naquele segundo de inconsciência, você nunca tivesse me dito 'oi'?
Todas as vezes que lembro daquela piada ruim que você contou outro dia tenho certeza que não. Continuaríamos iguais, talvez piores. Mas agora que conheço a sensação de rir com você, de chorar ao seu lado e compartilhar meus defeitos e qualidades com as suas falhas e acertos, não sei se seria tão bom se você nunca tivesse entrado na minha vida.
Voltando no tempo e apagando tudo o que aconteceu até aqui, ainda acho que daríamos um jeito de nos encontrar.