domingo, 18 de setembro de 2011


Acordei com vontade de abrir as janelas, arejar a casa, deixar a luz revigorar tudo sob si, iluminar os espaços, preencher de calor. Decidi abandonar a política do 'não ligo mais' com seus discursos de auto-suficiência, que rendem uma certeza incerta sobre como encarar o que nos incomoda; não engano a ninguém, não sei me manter insensível - e, agora, nem quero. A alegria e a dor são partes iguais do inteiro de cada um. Lidar com apenas um dos lados, ignorando o outro, é não saber lidar com nenhum dos dois.
Quanto aos dias que ficaram vagos, que eu possa dar-lhes um porquê (apesar do adiantado da hora); quanto aos que ainda serão contados aqui, que já sejam a explicação pura e simples de quem sou.

Se eu me interessasse mais pelo som da sua risada ao invés de tentar decifrar seus pensamentos, ainda hoje poderia ouvi-la, mesmo distante de mim, pois a colocaria debaixo do travesseiro pra que povoasse meus sonhos. Já seus pensamentos... esses só fazem me intrigar, não uma, mas duas vezes - quando por eles abri mão de seu riso e agora que, tenho certeza, não passam nem perto daqui.

domingo, 11 de setembro de 2011

zZz


Os dias rendem convívio, os abraços trazem conforto e os sorrisos, ultimamente, caso transpassem a admiração, são o início de novas ilusões. Nas noites, porém, os farrapos de inspiração que sobressaem a partir dessas observações morrem tão rápido quanto nascem, sem ao menos ter a oportunidade de se explicar. Vivo mais quando me permito fechar os olhos do que quando os mantenho abertos. Trocentas conclusões me acometem ao cair da noite e erguer do sono, mas duram o tempo de um suspiro, denunciando minha entrega - "...é, é por aí."
Preciso internalizar as respostas encontradas no fim da história, pra ter como princípio uma moral extraída de algumas metáforas. Quem sabe assim, na falta de portas de geladeira, adesivos e pedacinhos de papéis rasgados, eu gravasse alguns recados da vida onde nem a mais longa das noites, nem o mais pesado dos sonos, pudessem me roubar o x da questão.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Conta-gotas


Parece que aquela solução de dúvida diluída em desapontamento foi colocada em um conta-gotas perto do coração. Cada batida trépida provocou uma sensível agitação no líquido, fazendo uma gota por vez escorrer e despencar de mim. Por isso, essa essência secou aos poucos e as tais perguntas que ressurgiam quando você se distanciava tornaram-se amenas, quase retóricas. Já não era primordial entender o mapa no qual nossos caminhos seguiram por direções contrárias, já não fazia falta um consolo, nem tudo mais carecia de um lado bom pra não ser considerado perda de tempo. Me acostumei, é verdade. Depois das n tentativas falhas de somar 1+1 que com sorte viriam a ser 2, entendi que as coisas são como são, 'porque sim' é resposta e que o mundo é mesmo engraçado. Mais engraçado ainda é pensar que esse mundo inteiro, com todos as suas esquinas, setas e botas de Judas perdidas por aí, devia ter te levado pra qualquer lugar onde minha visão afetada pela miopia não permitisse te distinguir dos demais; no entanto, ainda sei seu nome, reconheço sua aparência e chega a ser incômodo não raramente esbarrar meus olhos na sua presença. Incômodo, e muito. Um desconforto do tamanho do meu silêncio.
É estranho escrever por sua causa, algo que não gosto e procuro não repetir - afinal de contas, se o acaso não te deixou bem longe, era obrigação do meu bom senso fazer isso. Contraditório, então, eu sei. Mas esse não é daqueles textos que nascem quando mais sentimos do que pensamos; esse é do tipo que ajuda a esfriar a cabeça, que transborda de realidade crua sem pretensão de entrelinhas. Contar um conto sem vontade nem forças pra aumentar um ponto sequer alivia meu cansaço, retém a exasperação com os meio-termos que não afastam (te afastam) de uma vez por todas. Se escrevo é porque estou a um passo de jogar tudo pro alto, falar umas verdades e soltar belo palavrão.
E se quer saber, aguentei até demais.

domingo, 4 de setembro de 2011


Ela era dessas que pensava. Nem sempre muito, nem sempre o bastante, às vezes mais do que queria, mas hora ou outra a pegavam desprevenida e longe de quem estava por perto. Deixava de ouvir, de falar, de dar socos em ponta de faca. Usava as grades de suas ideias pra impedi-la de fazer bobagem ou pra dar cabo e sansão às que já estava fazendo. Tinha necessidade de repassar os fatos e se perguntava se não havia perdido nada, já que invariavelmente seus planos - seus e muito próprios, que nasciam e cresciam tão somente nela - acabavam saindo do controle. E ela emudecia, revivia a semana, o mês, as cores e os rostos, transitando sem ser vista por entre tudo que já tinha visto, vivendo de novo sem poder viver novamente, apenas por observar o curioso e antes imprevisível desenrolar de suas atitudes. Faria tudo de novo se fosse capaz, não como o fantasma que era quando trancada em memórias construídas sob um ângulo torto, mas aproveitando melhor os segundos a que teve direito. Esse direito, ela bem sabia, é legado uma única vez; quem dera se dar conta mais cedo de que a saudade viria mais tarde, quem dera não precisar voltar atrás só de passagem e ter sempre consigo qualquer coisa que fosse eterna. Lamento no sentido puro da palavra ela não trazia, não alimentava tristeza, não guardava incômodos ou afazeres mal feitos. Só queria esticar as horas pra não se demorar mais em pensamentos, não voltar e voltar sempre ao que podia ter sido e não foi, quem sabe pra deixar - até que enfim -  uma nova 'ela mesma' acontecer.