sábado, 23 de junho de 2012


Me sinto desconfortável falando da morte. Muitos encaram o fim com um certo receio, talvez desconfiança acerca do que há no depois ou se há um depois do qual desconfiar; meu desconforto é diferente, não sonda o medo nem a vontade de viver além da conta. O que me estranha não é pensar sobre quem se foi, mas sim sobre quem ficou. E ficou sem. Imagino que quem vai deixa uma espécie de lacuna no presente e no futuro dos que o conheceram, um lugar desocupado onde devia haver presença - um lugar insubstituível.
Aprendemos a perder desde cedo e, ainda que por vezes não tivéssemos entendido o porquê de alguém simplesmente não estar mais ali, enfim aceitamos que 'ir pro céu' devia ser uma viagem longa. Não me lembro bem daqueles que me deixaram quando ainda era pequena, aliás, acho que começamos a gravar essas pessoas na memória quando entendemos que elas não voltariam de onde quer que tivessem ido. Só lembro das coisas que me contam, das fotos que vejo, e isso já basta pra sentir uma saudade tão grande que é como se eu ainda esperasse um regresso tardio e um abraço apertado. Saudade, pra mim, é sempre falta de ar, arquejar ruidoso no fundo do peito enquanto continuamos respirando normalmente.

Um comentário:

  1. sipz, somos absurdamente despreparados para lidar com essa certeza...

    JOPZ

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