sexta-feira, 23 de dezembro de 2011


Ele apareceu sem estardalhaço e, se não queria nada, o que queria parecia ser muito pouco. O mundo é pequeno, mas o coração dela, tão menor, andava vazio o bastante pra que um só fosse capaz de preenchê-lo tão bem quanto ele preenchia aquele banquinho afastado. Por isso ela olhou, sem culpa e sem medo, e não ligou ao reparar que ele olhava de volta. Que fosse - ele lá, ela aqui. Mas ele caminhou despretensiosamente até o 'aqui' de onde ela ainda o observava, antes de desviar os olhos ao decidir que, daquela distância, sua mãe lhe diria que é feio ficar encarando os outros assim. Ele não disse oi. Deixou um comentário sobre o céu escapar como se ao próprio fosse direcionado, ainda que seus ouvidos esperassem por uma resposta vinda de alguém ao lado. Não veio imediatamente, pois ela sentia a imensidão sobre sua cabeça se dissipar frente àquela conhecida - e temida - sensação de acalento, irradiando mansamente sem ter por que. "Por quê?", aliás, era justamente o que ela se perguntava, não uma, mas em todas as vezes. O mais engraçado é que essa era a questão que ninguém conseguia calar, nem mesmo fulanos como o recém chegado a seu lado, que, depois um tempo, eram responsáveis por reafirmar sua dúvida ao virar as costas e seguir sua vida - sem ela. E pensar que sempre começava assim, sem estardalhaço, querendo nada ou muito pouco, pra terminar em um "por quê?" pairando no ar como palavras jogadas aos céus.
Mas o vazio acima (e não dentro dela) estava mesmo bonito. Ela assentiu e ficou pra ouvir mais um pouco do que ele tinha a dizer sobre o céu, a vida e outras bobagens.

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