quarta-feira, 23 de novembro de 2011


Embora levasse uma vida ordinariamente desprovida de entusiasmo, aprendera a valorizá-la depois de 16 (quase 17, ela enfatizava) primaveras, intercaladas com incontáveis outonos que só por ela passaram. Ela, que tinha nome, endereço e razões próprias, por vezes sentia como se nada lhe conviesse, perdida, tateando às cegas até reencontrar o fusível de seu coração para tornar-se protegida e confiante novamente.
Era absurdamente confusa, mas, por ser a única a saber disso, erguia a cabeça e ostentava nos olhos uma certeza que não vinha dela. Tentava se convencer de que, cedo ou tarde, a prática lhe daria autoridade sobre essa segurança - tão logo um novo blecaute a deixava sem rumo. Nessas horas, ela só fazia escrever. Talvez pela 'falta de luz' suas palavras saíssem cambaleantes, suas linhas tortas, as ideias com a firmeza dos passos de um bêbado. Fingia falar de si como se pudesse enxergar a própria vida de longe, distância que nunca excedia a que separava seus olhos do papel. 
Esfregou o rosto, soltou um suspiro e, algumas linhas depois, a caneta também. Todo texto precisa de uma conclusão, assim como sua história carecia de um 'enfim'. E pensando no desfecho que, até então, não lhe acometera, ela resolveu esticar o ponto final.

[...]

2 comentários:

  1. Você escreve MARAVILHOSAMENTE!
    Confesso nunca ter dado a devida atenção às suas chamadas para ler o seu blog, mas prometo dar o máximo de mim para lê-lo a cada post recém nascido... (Tentando escrever de forma figurativa, mas creio não ter dado muito certo...)
    Te amo Jiló! ♥

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  2. Acho que talvez seja a hora de você abandonar esses 16 (quase 17, digo) anos de inúmeros blecautes causados por maus eletricistas nos quais você insiste em confiar e viver às custas da luz que já existe aí, dentro de você.

    E que bom que o Blogger resolveu sumir com o conta-gotas da minha Lista de leitura. Que bom.

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