quinta-feira, 15 de julho de 2010

R$ 0,05


7:38 da manhã. Quinta-feira chuvosa. Ônibus lotado. Sono.
Passei 15 minutos sentada no último banco do urbano. Vi um monte de gente entrando e saindo do ônibus, enquanto a chuvinha lá fora era constante, quase apática.
Havia um homem que sorriu e agradeceu ao trocador quando recebeu o troco de seus dois reais. Ele foi um dos poucos que levantou a cabeça pra olhar o senhor sentado numa poltrona velha, recebendo dinheiro e devolvendo moedas, dizendo bom dia pra cada um que passava e se mantinha em silêncio, encarando os próprios pés ou a chuva que batia na janela. O trocador era um sujeito simpático. Tinha um assunto para cada passageiro, puxava conversa quando alguém passava pela catraca, com um bom humor que parecia inabalável.
Levantei. Peguei o dinheiro e fui até o senhor. Ele me perguntou se eu não tinha nenhuma moeda, e naquele segundo quis realmente ter cinco centavos pra entregá-lo. Cinco centavos não pagariam a gentileza daquele homem, muito menos o sorriso bondoso que lhe estampava o rosto, mas seria meu modo prático de retribuir sua simpatia oferecendo um tostão que facilitasse seu trabalho. Imaginei quantos foram os que receberam seu cumprimento e sequer ergueram os olhos pra saber de onde vinha. Cinco centavos talvez fizessem um ou outro vasculhar os bolsos apressadamente no balanço barulhento do ônibus, talvez servissem para despertar a atenção dos mais distraídos e se tornassem um qualquer coisa que aquele senhor ganharia de cada um - já que não sorrisos, já que não 'bom dia'.
Foi então que me perguntei quão barata é a atenção que dedicamos aos outros. A resposta foi guardada na caixa à frente do trocador, enquanto eu dava espaço para que um novo passageiro atravessasse a catraca.

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