sexta-feira, 27 de agosto de 2010


Cecília Meireles é a autora de um dos textos mais maravilhosos que eu já li. A arte de ser feliz explica por si só o que eu amo tanto nessas palavras, mas um trecho, em especial, é o meu favorito, e fiz questão de reler esses parágrafos muitas e muitas vezes.

"[...] Houve um tempo em que minha janela se abria para um terreiro, onde uma vasta mangueira alargava sua copa redonda. À sombra da árvore, numa esteira, passava quase todo o dia sentada uma mulher, cercada de crianças. E contava histórias. Eu não podia ouvir, da altura da janela; e mesmo que a ouvisse, não a entenderia, porque isso foi muito longe, num idioma difícil. Mas as crianças tinham tal expressão no rosto e, às vezes, faziam com as mãos arabescos tão compreensíveis, que eu participava do auditório, imaginava os assusntos e suas peripécias e me sentia completamente feliz.
Houve um tempo em que a janela se abria sobre uma cidade feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre homem com um balde, e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros, e meu coração ficava completamente feliz.
[...] Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é reciso aprender a olhar, pra poder vê-las assim."

Todas as vezes que penso nessas palavras me dá vontade de escrever, escrever coisas simples e bonitas, pra fazer as pessoas tão felizes quanto eu fiquei ao ler esse texto. Mais ainda, me dá vontade de saber olhar pela janela e ver que tudo está onde devia estar... às vezes, na minha janela há só a escuridão do céu, envolvendo a noite e os corações solitários que os observam. E eu procuro as estrelas, e me sinto completamente feliz.

2 comentários:

  1. ô aloe vera, que coisa bonita de se ler, HAHAHA

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  2. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    que isso, acaju com menta!
    oaishoishaoshoais

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