sábado, 4 de setembro de 2010


Tavez fosse a cara que ela fazia. Ah, aquela expressão fascinada, os olhos brilhantes, o sorriso desenhando-se lenta e deliberadamente no rosto... era assim que ela ficava quando contava coisas que ninguém pedia pra ouvir, mas que todos escutavam com olhos tão brilhantes quanto os dela.
Ela desenhava no ar, tateava o vento e criava figuras com as mãos. Procurava no céu algo substancial que desse mais forma a suas ideias, como se quisesse que o mundo inteiro visse aquilo que ela contemplava só com o pensamento. Tentava controlar a própria voz, pra não gritar. Mas às vezes sussurrava, e seu fio de voz chegava mais longe que qualquer grito.
Aliás, nunca escolheu as palavras certas. Não escolhia direito nem a roupa que ia usar. Então, não usava as melhores palavras, apenas as que sabia. E, sem perceber, carregava cada uma com um suspiro profundo, um leve esganiçar, uma risada, uma admiração ou um pesar que saía de algum lugar do coração. Era dotada de talentos sutis, e um deles era justamente o de não saber nada e entender tudo, com uma clareza que só seus gestos descompassados e seus olhos desfocados conseguiam explicar.

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